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Fórum de timor.no.sapo.pt

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Re: Re: aulas em Timor


Caro colega,acho que não nos conhecemos em Timor.As palavras que eu escrevi pretenderam ser apenas um testemunho pessoal, uma troca de ideias.Não pretendo avaliar o trabalho de ninguém nem passar atestados de competências...eu apenas sou mais uma professora...num ano lectivo, as mesmas turmas trocarem de professores de três meses em três meses, não me parece o melhor, mas é a minha opinião.Todos os colegas que passaram por Timor, independentemente do tempo que lá estiveram, deram o seu contributo.Quanto aos critérios de selecção apenas digo que a experiência devia ter algum peso.Quanto às equiparações de cursos dos clientes das universidades privadas e públicas,não me parece justo em alguns casos.Claro que o sistema não funcionou a 100%...mas nenhum funciona...e houve colegas que fizeram um trabalho extraordinário... As minhas palavras apenas pretendem dar testemunho de uma experiência que para mim foi muito gratificante, quer pessoal quer profissionalmente...enquanto professora senti-me extraordinariamente útil e recompensada pelos resultados obtidos pelos meus alunos.Creio que o colega faz uma análise objectiva (muito necessária)da sua experiência de Timor...a minha é mais pessoal e emotiva...a minha Filomena é de Díli e claro que o português que sabe não é apenas o resultado do que eu lhe ensinei, uma grande parte é o resultado do seu esforço, trabalho e vontade de aprender...


mais vale tarde que nunca!Às vezes é preciso uma certa distância para falar do que nos marcou muito...dar aulas em Timor, o contacto com aqueles alunos marcou-me muito...

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Replying to:


Cara (ex) colega,


Não sei se nos conhecemos em Timor. Como já deverá ter deduzido, também eu lá estive, mas apenas durante 3 meses - se bem que não propriamente esse período tenha sido tão curto por minha vontade.


Em resposta ao seu "post", que desde já agradeço, devo começar por referir que não me parece ser exactamente a mesma coisa comparar PLE com ILE ou FLE, em países e situações tão díspares como a de Timor e a de Portugal, por exemplo; em Timor, além de alguma (suposta) implantação do Português, enquanto Língua do período colonial, existe o "detalhe" de esta ter sido adoptada como Língua oficial e, de certa forma, franca - dada a profusão de variantes dialectais da Língua veicular, o Tétum.


Também eu tive turmas enormes, e conheci perfeitamente as dificuldades quotidianas do Ensino, na minha opinião em perfeita roda-livre, que ali se pratica.


Também eu tive uma aluna (repito, uma, entre cerca de 300) capaz de comunicar em Português; e não foi, seguramente, por aquilo que EU lhe ensinei em 3 meses... Curiosamente, essa minha aluna também se chamava Filomena. Estaremos a falar da mesma? Maubara, 11º Ano? Isso é que seria uma espantosa coincidência!


Não comento, agora como antes, as considerações a respeito da alimentação dos alunos. Lá ou cá.


Conheço, em Portugal há anos (comunidade de Carcavelos), timorenses que mal "arranham" a nossa Língua.


Como tive cuidado de referir, e a colega fez o favor de realçar, TUDO o que escrevi sobre este assunto é apenas a minha opinião. Nada mais. As de outrém serão de cada qual, obviamente.


Ao que sei, as alterações metodológicas, no que ao concurso específico diz respeito, foram tomadas por decisão da (ex, pelo que me dizem) responsável local, Drª Maria José Carrilho. O que a terá levado a tal, não sei em concreto. Mas imagino (outra liberdade individual).


O sistema, como estava, não deu provas. Ou acha que deu? Portanto, nada mais natural do que tentar mudar alguma coisa.


Cito: "Quanto a contratos de três meses para leccionar em Timor...que hei-de dizer?!Andamos a brincar!Se em Portugal nos queixamos da excessiva rotatividade de professores, do quanto é prejudicial para os alunos...o que direi em Timor, os timorenses são desconfiados por natureza...quando eles confiarem minimamente nos professores portugueses com quem trabalham e têm aulas, estão eles a dizer adeus!Dar aulas em Timor não é definitivamente a mesma coisa que dar aulas em Portugal, acreditem!" Fim de citação.


A colega acabou de passar um atestado de incompetência aos Professores de Português que estiveram, no Verão de 2000, por um período de 3 meses, em Timor. A esses e também aos que lá estiveram este ano (através do Instituto Camões), e ainda aos responsáveis sectoriais, oficiais e estatais envolvidos, timorenses e portugueses.


Acho um grande mistério o que diz, e não é a primeira nem a 10ª, nem a 50ª, sobre habilitações próprias, profissionais ou suficientes. Calculo que, por uma estranhíssima coincidência, apenas a mim próprio tenha sido EXIGIDO - como factor eliminatório - o diploma da Licenciatura em Estudos Portugueses e Ingleses. Tenho documentação disto, que se passou em Setembro do ano 2000.


Depois, já em Timor, concluí que essa foi mais uma, hmmm, como direi, palhaçada.


Não me compete especular sobre a "justiça" ou a "injustiça" da Lei. Mas que existem aqueles 3 tipos de habilitação, lá isso, como sabe, existem mesmo. E que o exigível, por Lei, repito, é o que agora se exige, lá isso é. Injusto, e ilegal, por conseguinte, não é esta exigência - que nem sequer é nova. Injusto é ter-se atropelado a legislação todo este tempo. E não apenas neste particular, de resto.


Que me diz sobre a equiparação dos cursos tirados pelos clientes das universidades do sector privado com os dos alunos das Faculdades públicas? É igual? É justo?


E sobre os "pedidos" enviados por fax, de Lisboa, não tem nada a dizer?


Caramba.


É um prazer receber neste fórum a primeira mensagem de alguém que lá esteve a ensinar, como eu. Ao fim de 2 anos, 10.000 visitantes depois, mas, como se costuma dizer, mais vale tarde do que nunca.


Um abraço e toda a sorte do Mundo para si.











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Replying to:

Sou professora.Leccionei dois anos em Timor Leste.O segundo ano foi muito mais produtivo(o primeiro ano creio que serviu de "aprendizagem" de uma realidade escolar e social muito diferente da nossa, o que é óbvio numa escola em Portugal, não o é de todo numa escola em Timor).Tenho lido algumas vezes que os alunos timorenses ainda não falam português.Sou suspeita para falar de tal assunto, mas digam-me:quantos alunos em Portugal, ao fim de dois anos de aprendizagem de uma língua estrangeira falam inglês ou francês?E não esqueçamos que os nossos alunos (uns mais do que outros, claro) têm ao seu dispor um sem fim de materiais e condições quer na escola quer em casa.Os meus alunos em Timor sentavam-se no chão, eu escrevia num rectângulo preto pintado na parede.Materiais eram aqueles que eu inventava.Livros para os alunos levarem para casa não existiam.O único meio por onde os meus alunos timorenses podiam estudar em casa era o caderno.Uma turma de 45 alunos era considerada pequena (existiam turmas de 75/80 alunos e mais).A maioria dos alunos estava na escola das 7h e 30m /8h até às 13h/14h com uma simples chávena de café.Ao chegar a casa comeriam um pouco de arroz cozido. Isto diariamente.Haverá alunos que não falam português porque realmente não sabem, outros porque se intimidam quando lhes perguntam:"Então, já falas português?" Perguntem-lhe:"Como te chamas? Quantos anos tens?" Talvez não se intimidem tanto.Recebi outro dia uma carta de uma aluna minha...não estava escrita num português correcto, claro...era o português possível depois de dois anos em condições muito, muito diferentes das de uma escola portuguesa, mas qualquer pessoa entenderia o português da minha aluna Filomena.


Li também que o conhecimento de tétum e da realidade timorense não será uma mais valia para dar aulas em Timor.É uma opinião...pessoalmente, senti que o meu segundo ano foi muito mais produtivo precisamente porque tinha aquele conhecimento que me ajudava a interpretar determinadas atitudes quer dos meus alunos quer dos colegas timorenses. E sempre pensei que para ensinar uma qualquer língua estrangeira fosse útil ter algum conhecimento da língua materna dos alunos.


Quanto a contratos de três meses para leccionar em Timor...que hei-de dizer?!Andamos a brincar!Se em Portugal nos queixamos da excessiva rotatividade de professores, do quanto é prejudicial para os alunos...o que direi em Timor, os timorenses são desconfiados por natureza...quando eles confiarem minimamente nos professores portugueses com quem trabalham e têm aulas, estão eles a dizer adeus!Dar aulas em Timor não é definitivamente a mesma coisa que dar aulas em Portugal, acreditem!


Tive momentos de muito desânimo, mas pesando o bom e o mau, o prato do bom pesa muito mais, tanto que adorava voltar...e ver o brilho único dos olhos daquelas crianças e sentir o meu interior dizer-me:vale a pena e é muito bom estar aqui com elas!


Não voltarei, sou licenciada apenas em português...nesta balança um professor licenciado em português e uma variante (por ex.port./espanhol; port./italiano; port./alemão, etc)com 10 valores de classificação académica, 0 dias de serviço no ensino pesará mais do que a minha classificação académica de 13 valores, os meus 1700 dias de serviço no ensino, 730 dos quais no ensino do português como língua estrangeira...